A política brasileira é confusa e na maior parte das vezes controversa mas uma hora a máscara acaba caindo. Foi o que aconteceu neste início de setembro durante o Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores.
Depois de nove anos no poder, mesclando continuísmo com trapalhadas populistas, Lula e Dilma utilizaram o final de semana para exibir José Dirceu como troféu e profetizar sobre a regulação da imprensa.
Um tema estava entrelaçado ao outro. Usaram a denúncia da revista Veja, onde acusava o ex-líder do mensalão de ter criado um governo paralelo a partir de um apartamento em hotel de luxo em Brasília, para afirmar que a “imprensa marrom” estava cometendo crimes contra a privacidade para promover um golpe no “governo do povo”. Transformaram, sem pensar duas vezes, uma grave denúncia em inquisição anti-imprensa.
Fizeram a reportagem morrer e, não satisfeitos, usaram o presidente do PT, Rui Falcão, para trazer de volta à pauta a Lei de Imprensa que, durante a campanha, foi negada aos quatro ventos pela cúpula PTista – que inclusive a deletou de seu programa presidencial ao ver a péssima repercussão da idéia.
Na resolução política do Congresso do PT, o controle sobre os veículos de comunicação é colocado como um dos “desafios do momento”, dando como “urgente abrir o debate no Congresso Nacional sobre o marco regulador da comunicação social”. Afirmam defender a liberdade de imprensa e, se utilizando da conjunção “mas”, atacam “o jornalismo marrom de certos veículos”.
Ora, essa! A gramática é clara: conjunções adversativas (“mas”) “indicam uma relação de oposição bem como de contraste ou compensação entre as unidades ligadas”. Em outras palavras, a liberdade de expressão é “questão de princípio” do PT desde que não seja utilizada para criticá-los.
Caso critiquem, tais veículos de comunicação estarão criando “um clima de imposição de uma única versão para o Brasil” e promovendo “a crescente partidarização, a parcialidade e a afronta aos fatos”.
Assim sendo, os governistas acabaram por identificar como criminosos exatamente aqueles que apontam crimes. Resolveram denunciar exatamente aqueles que eram utilizados para denunciar o regime militar. Definiram a faxina pela ética como secundária, enquanto elegeram como alvo principal a caça aos que discordam. Criaram, a partir daí, o AI-5 do PT.
Neste sentido, caso o absurdo dos absurdos aconteça e a população brasileira permita que a resolução deste congresso se transforme em um dia no AI-5 do PT, será que os governistas perseguirão também o jornalismo pró-Dilma?