(Publicado pelo Instituto Liberdade, Gazeta de São João del-Rei, CM Consultoria e Correio)
Após a tragédia que nos deixou sem Eduardo Campos, tem sido constante a publicação de uma série de suas frases de efeito. Uma delas, o desejo de “dar ao filho do pobre a mesma educação recebida pelo filho do rico”. A frase foi comentada com muita euforia pelo senador Cristovam Buarque, ex-candidato à presidência e agora espectador de luxo da luta pelo Palácio do Planalto.
O comentário aconteceu durante entrevista concedida à GloboNews onde falou de sua ligação com Campos e seu projeto de federalização da educação. Basicamente, o senador brasiliense acredita que o Governo Federal deva exercer um forte controle sobre a educação em todo o país e, ditando como funcionarão as escolas, padronizar o ensino do filho do pobre e do filho do rico.
Infelizmente, Buarque demonstra não conhecer bem o país no qual reside. Padronizar a educação em todo país significa que a criança no interior do Amazonas aprenderá as mesmas coisas que aquela no centro urbano de São Paulo, independente do contexto onde estão inseridas ou das necessidades que a realidade local impõe. Também significa que a pluralidade de modelos pedagógicos será limitada à apenas um, definido por um planejador central, impedindo qualquer forma de inovação educacional, mesmo que proveitosa e do interesse dos pais – sejam eles pobres ou ricos.
Apesar de dizer na mesma entrevista que o socialismo radical é coisa do passado, prega um modelo educacional similar ao de Cuba, da União Soviética e da Coréia do Norte, nações que faliram ou pararam no tempo. Rejeita a descentralização e a liberdade da família ao educar seus filhos, como acontece nos Estados Unidos e na Holanda. Rejeita a possibilidade de ter escolas de diversos modelos pedagógicos, adaptadas ao contexto em que estão inseridas. Rejeita aos pais – pobres e ricos – o direito de decidir como querem educar seus filhos.
Construir um sistema educacional que garanta ao filho do pobre a mesma educação recebida pelo filho do rico demanda um estudo que vá além da literatura marxista. Demanda entender que o filho do pobre começou a ser educado a partir do século XIX em escolas técnicas, dedicadas a formar a mão de obra que ocuparia os cargos criados pelo processo de industrialização. Neste cenário, o filho do pobre estudava por menos tempo e aprendia lições práticas, podendo entrar no mercado de trabalho antecipadamente já que não possuía dinheiro suficiente para estudar por anos e anos, como o filho do rico. Este, por sua vez, preferia os cursos clássicos, que permitiam uma formação universitária de elite em cursos como direito, medicina e economia. Isto perpetuava a posição social de ambas as famílias.
Atualmente, o cenário não é tão diferente. O filho do pobre vai para a escola pública, de baixa qualidade, e tem de abandonar os estudos ao término do Ensino Médio para entrar no mercado de trabalho. Com muita dificuldade, retorna aos livros em universidades particulares fracas, financiadas por programas como o FIES ou o ProUni. O filho do rico, por sua vez, decide se quer estudar em escola pública ou privada. Em geral, escolhe a privada, pois sua qualidade é superior. Entra em uma universidade federal, de qualidade, e ao término de seu curso pode fazer uma pós-graduação. Entra no mercado de trabalho após os 23 anos com um salário atraente ou dá continuidade aos negócios dos pais.
Equalizar este cenário não significa nivelar por baixo, restringindo todos à fraca educação básica ofertada pelo Estado. Significa subsidiar o acesso ao ensino básico privado, permitindo ao filho do pobre – bem como ao do rico – escolher se quer estudar na escola pública ou na escola privada. Significa também permitir que o pobre possa estudar por tanto tempo quanto o rico, subsidiando sua estadia em cursos superiores de graduação e pós-graduação.
Por fim, significa mostrar à população que não existe almoço grátis, ou seja: se fez uso dos subsídios do governo ou de instituições públicas de ensino, é dever destinar parte do seu salário, pelo menos por certo período, para o financiamento da educação – proposta defendida por Buarque enquanto Ministro da Educação de Lula, mas esquecida desde que deixou seu posto.